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29/04/2010

o abraço


O matuto falava tão calmamente, que parecia medir, analisar e meditar sobre cada palavra que dizia.

- É... das invenção dos homi, a que mais tem sintido é o abraço.

O abraço num tem jeito di um só aproveitá!

Tudo quanto é gente, no abraço, participa uma beradinha...

Quandu ocê tá danado de sodade, o abraço de arguém ti alivia.

Quandu ocê tá cum muita reiva, vem um, te abraça e ocê fica até sem graça de continuá cum reiva...

Si ocê tá feliz e abraça arguém, esse arguém pega um poquim da sua alegria...

Si arguém tá duente, quandu ocê abraça ele, ele começa a miorá...

Muita gente importante e letrado já tentô dá um jeito de sabê purquê qui é qui o abraço tem tanta tequilonogia, mas ninguém inda discubriu...

Mas, iêu sei! Foi um ispirto bão de Deus qui mi contô...

Iêu vô contá procêis u qui foi quel mi falô:

- O abraço é bão pur causa do coração...

Quandu ocê abraça arguém, fais massage no coração!

I o coração do ôtro é massagiado tamém!
Mas num é só isso,não...

Aqui tá a chave do maió segredo de tudo:

É qui, quandu nois abraça arguém, nóis fica cum dois coração no peito!
Intonce...

autor desconhecido





23/04/2010

A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.

Aurélio Agostinho
Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.
Che Guevara

16/04/2010

Integridade

Dignidade não se vende.
Probidade não se compra.
Seriedade não se pode 'pedir emprestada'.
Caráter íntegro - ou se tem, ou não se o tem.
Inteligência, nasce-se com ela.
Capacidade é oriunda da inteligência.
Resumindo: há pessoas de bem e do bem - mas é muito difícil encontrá-las no meio político.
Mirna Cavalcanti de Albuquerque

14/04/2010

Não há vagas

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira.

Ferreira Gullar

07/04/2010


Abençoado seja o salário de cada mês.
Que dure além dos três primeiros dias.
Que estique devagarzinho e compre o gás, pague a água e a energia, o alimento, mas, se faltar, que haja força para continuar e ânimo para vencer as dificuldades de cada dia.

aos governantes


Que saibam dimensionar a luta para viver com um salário que não chega ao final do mês, o desânimo, a dor de se ouvir o lamento do filho faminto. A força necessária para sair de casa todos os dias, ir para o trabalho e deixar o pouco que resta no armário para saciar a fome dos que ficam.

03/04/2010

Indignação

"Os intelectuais se calaram. Os artistas de antigamente que iriam aos rádios, as emissoras de tv protestar sobre isso parece que não existe mais, só pensam mesmo é em ganhar dinheiro. E nós? Permanecemos ainda conformados com tudo isso. Muitos dizem: “é assim mesmo!” ou, “fazer o que ‘né’?”; ou mesmo tiram piadas sobre a situação desmerecedora que passam. Político bom, para muitos da população brasileira, que não tem o mínimo de senso critico é aquele que investe em carnaval fora de época e se esquece do saneamento; é aquele que dá cesta básica e por outro lado passam mais de 300 dias de fome; é aquele que enrola e diz que vai fazer e na verdade não fazem nada. Infelizmente a maioria do povo brasileiro não tem uma cultura crítica para saber o que é certo e o que é errado. É uma cultura conformista. Contudo, somos um povo que sobrevive a muitas crises. Mas do que adianta? Se ficarmos calados em meio a tantos aparatos que dá para rir de nós mesmos. É mais vantagem assistir Realitys Shows que o povo fica comentando. Não é a toa que a TV Cultura não tem tanta audiência como a Globo e a Record tem nestes estúpidos programas em nossas televisões. É assim que eles querem, construir e permanecer com um país sem senso crítico e que a população não tenha poder também."
Leo Durval - Acadêmico do Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e do curso de Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

Aprendizagem de desaprender - A sabedoria de Rubem Alves

Ao nascermos somos pinho puro, mas, logo começam as demãos de tinta.
cada um pinta sobre nós a cor de sua preferencia.
Todos são pintores: pais, avós, professores, padres, pastores.
Até que nosso corpo desaparece.
Claro, não é com tinta e pincel, é com a fala.
A tinta são as palavras.
Falam, as palavras grudam no corpo, entram na carne.
Ao final o corpo está coberto de tatuagens da cabeça aos pés. Educados.
Quem somos ?
Procuro despir-me do que aprendi,
procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos
desembrulhar-me e ser eu
Isso exige um estudo profundo
Uma aprendizagem de desaprender...

02/04/2010

CIRCO BRASIL

Bem-vindos ao circo Brasil, um lugar onde a platéia sofre os dissabores e as dores, se esvaindo em sacrifícios para que as estrelas eleitas ao palco usufruam as maravilhas do espetáculo.
Ao povo que a tudo assiste vestido de palhaço, não são fornecidas cadeiras. Ao contrário, lhe mandam andar na corda bamba e efetuar verdadeiros malabarismos para continuar sobrevivendo. Este circo não é para crianças, que se vêem abandonadas, prostituídas, deixadas em filas de hospitais sem atendimento, cheias de dor e sofrimento, prontas para morrer. Largadas nos campos para serviço escravo ou nas ruas pedindo esmolas. No circo Brasil, as crianças não têm vez ou voto, nem sequer tem direito de irem à escola.
Neste circo ao invés de lonas se armam conchavos. Vivemos enjaulados dos animais selvagens que andam livres graças a uma justiça falida, que liberta estupradores, assassinos, pedófilos, seqüestradores e traficantes, deixando-os soltos para andarem ao nosso redor, prontos para roubar o pouco que temos, livres para matar e agredir, enquanto por trás de grossas grades sofremos.
Um circo cujo elenco é formado por senadores, governadores, juizes, desembargadores, prefeitos, vereadores, ministros e deputados, entre tantos outros que têm nas mãos sua parcela de culpa por deixarem um fardo de insegurança, desemprego e doença a uma população onde muitos trabalham como escravos.
Inescrupulosos seres políticos, que em muitos lugares oferecem futebol, carnaval e cachaça, ou quem sabe até mesmo festas baratas (a um custo extremamente caro), para um povo que necessita de emprego, moradia, e melhores condições para viver e poder ganhar o seu pão de cada dia.
Somos a atração que move o espetáculo, enquanto no picadeiro político, hábeis ilusionistas nos enganam, fazendo-nos ter esperanças em suas mentiras com aroma de hortelã, que são vomitadas em cada nova eleição sobre nosso semblante sofrido de mãos calejadas, em uma terra por eles amaldiçoada, porém em nossos corações ainda amada e na qual vivemos sobre o pesado jugo de suas imensas mesquinharias.
É um show de horrores sem fim, em que pagamos para entrar e rezamos para poder sair. São diversas tendas prontas para o pobre povo iludir. Cada uma com uma sigla. Partido disto ou daquilo ali. “Podem confiar”, é o que dizem. “Estamos aqui para lhes servir”. O ingresso custa um voto. É só depositar e conferir. Entrem e alimentem todas as feras que devoram este País.
Antonio Brás Constante